Saúde mental dos cientistas na pandemia
por Marília Viana

fonte da figura: http://www.unifap.br/covid-19-cartilha-traz-dicas-de-cuidado-com-a-saude-mental-em-tempos-de-coronavirus/

O surto de uma pandemia global causa medo e preocupação entre muitos e influencia o bem-estar cognitivo de cada indivíduo. A vida dos indivíduos infectados, familiares e amigos e a sociedade estão em jogo devido a incidência e mortalidade exponencial atribuída ao coronavírus. Além disso, as incertezas sobre a doença, o surgimento da vacina e a volta da normalidade alimentam as mentes com inseguranças que por sua vez prejudicam a saúde mental da população.

Muitos depositam a esperança de viver uma vida pós-pandemia nos cientistas. De fato, muitos deles estão concentrando os seus esforços para compreender a ação do vírus e propor medidas de prevenção, contenção e tratamento da doença. Esses profissionais praticamente abandonaram os trabalhos não relacionados a COVID-19 e passaram a se dedicar ao estudo desse vírus, trabalhando diariamente, equilibrando os objetivos pessoais voltados para a carreira e as responsabilidades para com a sociedade na luta contra a pandemia. Mas lembremos que estes profissionais também são pessoas e que não estão isentos dos impactos na saúde mental provocados pela pandemia.

Estudos recentes demonstraram que a maioria desses profissionais possui sintomas relacionados à depressão ou à ansiedade, devido à elevada pressão para gerar resultados satisfatórios (descobrir vacinas, alvejar anticorpos e realizar testes em grande escala) que beneficiariam a saúde pública; e essa luta constante para estar na linha de frente pode levar muitos desses ao esgotamento mental. Mesmo entre aqueles cientistas e acadêmicos que não trabalham diretamente com a COVID-19, com a restrição do acesso a muitos laboratórios de pesquisa, enfrentam o estresse adicional de ver as suas pesquisas interrompidas e a ansiedade para a sua retomada.

A fim de debater sobre este tema a Academia Brasileira de Ciência (ABC) promoveu o webnário “Conhecer para Entender: O mundo a partir do coronavírus”. No qual pesquisadores de diferentes áreas debateram sobre os impactos da pandemia na pesquisa científica.

“Essa nova realidade nos levou a abdicar, neste momento, de nossas linhas de pesquisa para estudarmos métodos de desenvolvimento de testes que não dependam de importação e utilizem insumos nacionais. A pandemia está nos ensinando que é fundamental criar uma estrutura permanente que permita que pesquisadores de diferentes áreas conversem”, disse Marcelo Mori durante sua palestra no webinário, destacando o envolvimento de uma equipe multidisciplinar na força tarefa da Unicamp para enfrentamento do COVID-19 que engloba médicos, sanitaristas, cientistas sociais, biólogos, matemáticos e profissionais da área da computação, com sistemas de geolocalização. “Certamente sairemos perdendo dessa crise em termos de financiamento e teremos que nos reinventar para buscarmos soluções mais criativas, interdisciplinares e ganharmos algo a partir dessa realidade”, finaliza Mori, ressaltando as oportunidades e aprendizados adquiridos com a pandemia.

E por falar em aprendizado, enquanto alguns cientistas passaram a escrever manuscritos, bolsas e inventários de seus freezers para se manter ocupados durante o tempo em que estavam longe da bancada, outros decidiram investir na criatividade, transformando banheiros, lavanderias e cozinhas em laboratórios improvisados; buscando enxergar uma oportunidade de explorar perguntas, ou ainda tentando impedir que os projetos retrocedessem.

Este foi o caso de Steven Henikoff que estuda epigenética no Fred Hutchinson Cancer Research Center e que estava próximo de finalizar sua pesquisa quando o COVID-19 o impediu de continuar os experimentos no laboratório. Para não suspender a pesquisa, ele levou alguns equipamentos para casa e montou um laboratório na sua lavanderia. O pesquisador comenta que conseguiu processar ainda mais amostras do que normalmente faria no laboratório, graças às interrupções limitadas ao longo do dia, e que sua equipe conseguiu finalizar a pesquisa com sucesso. Para saber mais sobre esse tipo de engenhosidade clique no link e confira a matéria completa.

Além de se reinventar para dar continuidade ao trabalho, estudos ressaltam ainda que é necessário cuidar da saúde física e mental durante esse período através da prática de exercícios físicos que lhe deem prazer, autocuidado, leitura, meditação, etc. Outra alternativa interessante que pode melhorar a saúde mental é se permitir a novas experiências como explorar a dimensão da vida online através de envolvimento com jogos, cursos, filmes e músicas em plataformas virtuais. Uma regalia oferecida pela Bioinformática é a possibilidade de continuar o trabalho de forma remota que vem sendo amplamente adotado durante a pandemia. O momento atual propicia um convite para experimentarmos e/ou aprofundarmos a interdisciplinaridade oferecida pelos diversos temas da Bioinformática.

Vale ressaltar aos primeiros sinais de alerta relacionado a algum sintoma psicológico como ansiedade e/ou inquietação aumentada, insônia persistente, sentimento de angústia, vontade excessiva de chorar, dentre outros; em presença desses sintomas é importante buscar ajuda profissional. Existem algumas iniciativas que surgiram por conta da pandemia e pretendem se manter após o controle do coronavírus, como a “Saúde Mental para Todos” formada por um grupo de psicólogos que oferece serviços gratuitos ou com valores reduzidos para a população. Para participar desta iniciativa basta preencher o formulário que está no link da bio no perfil @saudementalparatodos.

A grande lição que podemos extrair de pandemias anteriores é que a preocupação com o coletivo, prática de altruísmo e a procura por profissionais aptos, como psicólogos e psiquiatras, são fundamentais para atravessar esse momento e mitigar os efeitos psicológicos causados por essa pandemia.

E você leitor, tem conseguido fazer seu trabalho durante este período delicado que estamos vivenciando? Compartilhe com a gente como a pandemia afetou sua vida profissional respondendo a nossa pesquisa nas redes sociais do transcrição em dia.

Referências:

https://bmjopen.bmj.com/content/bmjopen/10/7/e039426.full.pdf

https://www.thelancet.com/action/showPdf?pii=S2215-0366%2820%2930168-1

https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0889159120309211?via%3Dihub

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7182052/pdf/cureus-0012-00000007405.pdf

http://www.abc.org.br/2020/07/21/impactos-da-pandemia-na-pesquisa-cientifica/

https://www.the-scientist.com/news-opinion/amid-the-covid-19-pandemic-some-scientists-bring-the-bench-home-67533