Mulheres na Bioinformática: uma porta de acesso para a diversidade
por Carla Sakamoto

Mulheres e Bioinformática formam uma boa combinação? A equipe do Transcrição em Dia conversou com três mulheres em formação na área de Bioinformática em diferentes locais do Brasil e ouviu suas opiniões.

Transcrição em Dia, Redação, 31/03/2020

Ao longo dos anos, por motivos históricos, verifica-se uma prevalência masculina nas Ciências Exatas. Como área multidisciplinar, a Bioinformática exige não apenas entendimento de processos biológicos, mas também o conhecimento e aplicação de ferramentas de informática para analisá-los. Esse fato classificaria, automaticamente, a Bioinformática como uma área de atuação não preferencial para mulheres? Ou seria esse um fator de exclusão da presença feminina entre os Bioinformatas?

Bianca Santiago é mestranda do Programa de Pós-Graduação em Bioinformática da UFRN. Toda a sua formação, do Médio-Técnico à Graduação, foi na área de TI. Ela entrou no BioME como desenvolvedora web e suporte técnico e com o passar do tempo se viu cogitando a Bioinformática como primeira opção de carreira. Ela afirma que "a Bioinformática é uma área em ascensão com uma comunidade crescente com membros realmente dispostos a ajudar e nos fazer sentir acolhidos” e que não sentiu tão forte a diferenciação de pessoas existente em outras áreas e contextos. “[…] eu só posso mais uma vez dizer que é uma comunidade incrível de se estar, inclusive como mulher.”

Embora em uma região tão distinta do país, e tendo uma formação igualmente distinta, a doutoranda do Programa Interunidades de Pós-Graduação em Bioinformática da USP Raquel Miranda não tem uma opinião muito diferente. Bacharel em Biotecnologia pela Universidade Federal de São Carlos, interessou-se pela Bioinformática ainda durante a graduação. Ao entrar na Bioinfo, entendia apenas o básico de modelos matemáticos, estatística e lógica de programação. E por isso teve e ainda tem que ler e estudar muito para se familiarizar um pouco melhor com esses conhecimentos e com conceitos que considera complexos. Entretanto, afirma que, no geral, sua experiência com a Bioinformática sempre foi boa. "Escolher essa área de atuação me trouxe muitos desafios e aprendizados, o que permitiu que eu crescesse tanto do ponto de vista profissional, […] quanto do ponto de vista pessoal, tornando evidente que aprender é um processo e que muitas vezes leva tempo e requer muita dedicação." Ao ser indagada sobre como se sente sendo uma mulher atuante na Bioinformática, Raquel se declarou "honrada e privilegiada por poder atuar em uma área tão relevante no cenário atual!”

Graduada em Ciências Biológicas, mestre em Bioinformática e doutoranda do Programa Interunidades de Pós-graduação em Bioinformática da UFMG, Lissur Orsine teve como primeiro desafio aprender a programar. "No começo foi difícil, e em alguns momentos eu pensei que nunca iria conseguir, mas hoje eu me considero fluente em pelo menos uma linguagem de programação.” Sobre o fato de ser uma mulher atuante na Bioinformática, ela declarou nunca ter passado por uma situação de preconceito por ser mulher. "O que eu noto é que, algumas vezes, as pessoas veem com estranheza eu possuir habilidades inerentes à profissão, como programar, por exemplo, mas eu não sei se isso está diretamente relacionado ao gênero. Além disso, a maioria dos profissionais da área é homem. Isso não foi um problema para mim, mas ter diversidade, de qualquer tipo, é sempre bom.”

Voltando às perguntas colocadas no início, os relatos apresentados acima, junto com tantas outras experiências, felizmente mostram que a resposta para ambos os questionamentos é não. Seja seguindo carreira acadêmica, atuando em instituições públicas ou privadas de pesquisa, como desenvolvedora ou analista de dados, não existem barreiras para as mulheres. Ao contrário, a multidisciplinaridade presente na Bioinformática é um ponto a favor da diversidade de gênero e da diluição de preconceitos (Figura 1).

Figura 1

Figura 1: Embora ainda com maioria de homens, a Bioinformática representa o equilíbrio entre a predominância masculina na Computação e a predominância feminina na Biologia, unindo gêneros em torno da multidisciplinaridade.