Bioinformática por David Morais
por David Morais

Em sua recente visita ao Brasil, David Morais compartilhou com a equipe do Transcrição em Dia sua opinião sobre alguns dos desafios presentes na Bioinformática.

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Eu fiz parte da primeira geração de Bioinformatas do Nordeste. Na época, a Bioinformática ainda era desacreditada como ciência, e alguns pensavam que o modismo logo acabaria.

Os meus caminhos se cruzaram com a Bioinformática por acaso no final da graduação com a participação no projeto Genoma da Cana-de-açúcar (SUCEST), e o que seria apenas um trabalho rápido se tornou minha carreira.

Não existe a fórmula perfeita para ser um bom Bioinformata; não se faz necessário saber exatamente tudo de biologia ou informática, mas é desejável saber o suficiente destas ciências para transitar confortavelmente entre ambas. Eu acredito que o maior desafio para os Biólogos é transformar um problema real em um problema lógico; enquanto para os informatas, é entender o fenômeno biológico envolvido no resultado gerado. Uma solução para superar esse obstáculo seria o estudante aprender com problemas reais da área, pois o aprendizado seria direcionado a uma finalidade, o que facilita o processo de absorção do conteúdo. Além disso, para os iniciantes, aprender sobre estrutura de banco de dados, linguagem de programação e suas aplicações — python, R ; e alguma linguagem compilada (C, C++, etc) são boas opções.

Acredito ainda que a formação acadêmica específica na área é hoje uma necessidade. Em minha opinião, disciplinas básicas de Bioinformática devem ser acrescentadas às bases curriculares dos cursos de Biologia, Informática e afins. No entanto, a melhor solução consiste na abertura de cursos de graduação em Bioinformática a fim de que haja um currículo básico comum.

Deixo um alerta para os estudantes de graduação que desejam seguir profissionalmente na área: existe uma demanda crescente por Bioinformatas, pois no momento atual, as pessoas que trabalham nessa aŕea não possuem formação específica. Além disso, existe ainda a desinformação sobre a profissão. A maioria das pessoas ainda não sabe o que faz um Bioinformata. É necessário maior divulgação e informação sobre nossas áreas de atuação. A Bioinformática é uma ciência e vai levar algum tempo antes que ela atinja a maturidade que vemos em outras áreas que empregam a ciência da computação como backbone.

A versão final do profissional Bioinformata ainda não existe e as perspectivas futuras da área apontam para a fusão do Bioinformata com Biólogo molecular, ou seja, o Bioinformata do futuro vai necessitar dominar ambos os conhecimentos citados anteriormente (gerar o dado e compreender o fenômeno biológico envolvido). Além disso, muito em breve a dimensionalidade dos dados de Bioinformática demandará algoritmos massivamente paralelos e complexos, e a inteligência artificial estará presente no cotidiano da profissão.