Prof. Sandro José de Souza
por Renata Cavalcante

Sandro José de Souza possui graduação em Biologia pela UFPR (1989), doutorado em Bioquímica pela USP (1993) e pós-doutorado pela Universidade de Harvard (1998). Ele é um dos pesquisadores pioneiros nas áreas de Genômica e Bioinformática no Brasil e atualmente é Professor Titular do Instituto do Cérebro na UFRN, coordenador do BioME (Bioinformatics Multidisciplinary Environment) e vice-coordenador do Programa de Pós-graduação em Bioinformática na UFRN.

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- Como se deu o processo de desenvolvimento do Ambiente Multidisciplinar de Bioinformática (BioME)?

R.: - A iniciativa de Bioinformática na UFRN teve início a partir de conversas entre o Professor Ivonildo do Rego (diretor do Instituto Metrópole Digital) e eu, no final de 2013. Ivonildo diagnosticou muito bem que estávamos em uma boa posição na UFRN, visto que já havia vários docentes trabalhando na área. Decidimos centrar a iniciativa no IMD e, como etapa inicial, atuar no Bacharelado em Tecnologia da Informação (BTI). Criamos então a ênfase em Bioinformática no BTI, o que permitiu a contratação de dois professores atuando diretamente em Bioinformática. Foram eles o Professor Jorge Estefano e o Professor César Renno. Mais recentemente tivemos mais dois professores contratados: o Professor Tetsu Sakamoto e o Professor Renan Moioli. Logo depois, em 2015, decidimos propor à CAPES um programa de mestrado e doutorado em Bioinformática visto a importância e escassez de programas de pós-graduação da área no país. A nossa proposta foi aprovada no final de 2015 com nota 5, tanto para o mestrado quanto para o doutorado. O PPG-Bioinfo da UFRN iniciou as suas atividades em março de 2016 e até o presente momento já graduamos 18 alunos de mestrado e 01 de doutorado. Com o Programa, houve a necessidade de termos um espaço físico para acomodar os discentes e os docentes. Criou-se então o BioME como um núcleo de pesquisa, ensino e inovação do IMD. Hoje ocupamos uma área de 600 m2 perto do campus principal da UFRN. Em 2019, criamos a primeira empresa spin-off oriunda da iniciativa: a Duna Bioinformatics. A empresa foi criada em parceria com a Biominas Brasil, uma das principais instituições na área de Biotecnologia no país.

- Em sua opinião, qual é a posição atual do Brasil/Nordeste no cenário da Bioinformática?

R.: - O Brasil ocupa uma posição de destaque no âmbito global. As iniciativas de genômica no final da década de 90 e início dos anos 2000 geraram um núcleo sólido de pesquisadores na área. Foi também importante a ação da CAPES ao fomentar dois programas de doutorado em 2002/2003, um deles na UFMG e outro na USP. A criação da Associação Brasileira de Bioinformática e Biologia Computacional em 2004 foi também importante. Dentro do Brasil, o Nordeste ocupa uma posição de destaque, principalmente agora com o PPG-Bioinfo da UFRN. A Computação é muito forte no Nordeste e a Bioinformática está se aproveitando disso. Há excelentes grupos de pesquisa em Bioinformática em praticamente todos os estados do Nordeste.

- O que são as redes de biologia computacional da CAPES?

R.: - Em 2013, havia uma grande demanda por profissionais de Bioinformática e a CAPES respondeu lançando um edital cujo objetivo principal era a formação de recursos humanos na área. Desta forma, originaram-se as redes de biologia computacional. Foram aprovadas 13 redes coordenadas por grupos de pós-graduação da USP (2 redes), UFRJ (2 redes), UFMG (2 redes), LNCC, UFSC, Unicamp, UFPA, UFPE, UNB e UFRN. No ano passado conseguimos uma prorrogação das redes até a metade de 2020 e esperamos conseguir convencer a CAPES da importância de manter a iniciativa, cujo sucesso é inquestionável. Foram centenas de alunos formados, milhares de papers publicados e dezenas de patentes submetidas.

- Nos dias atuais, quais são os principais desafios no campo da Bioinformática?

R.: - Os desafios são muitos. O principal deles é ainda a questão da formação de recursos humanos, não só no Brasil, mas no mundo todo. Há também a necessidade de promovermos de forma mais intensa o empreendedorismo em Bioinformática. Os desafios técnicos também são imensos principalmente devido ao que chamamos de "big data". A grande quantidade de dados traz desafios quanto ao armazenamento e processamento de dados bem como o desenvolvimento de novos métodos de análise. Com a multidimensionalidade dos dados há também a questão da integração e estruturação dos mesmos. Estamos vivendo uma grande época para a Bioinformática.

- Por fim, na sua posição de pesquisador que está atuando na área nos dias de hoje, e tendo passado por diversas etapas de transformação e reconhecimento no campo da Bioinformática, quais são as principais perspectivas para a área nos próximos anos?

R.: - As perspectivas para a área são muito positivas. As aplicações da Bioinformática tendem a aumentar muito nos próximos anos. Assim, acredito em uma forte expansão do mercado de trabalho, principalmente no setor privado. Obviamente, esse cenário otimista depende da situação econômica do país. Ao meu ver, o maior risco ainda é a questão da formação de recursos humanos. Talvez não consigamos suprir a demanda do mercado, principalmente se projetos como o das Redes de Biologia Computacional não forem renovados e expandidos.